Se há algo fundamental e que desde criança deve-se aprender é trancar a porta. Seja com chave, com trinco ou tramela.
Na ausência destes, faça o possível para firmar a porta com um móvel ou, ainda, com o próprio pé.
A finalidade maior destes cuidados é evitar experiências constrangedoras, tanto para aquele que se esqueceu de trancar a porta como para aquele que abrir sem bater.
O girar da chave é essencial, mais do que se possa cogitar. Em um ônibus então, como é importante girar a trava de segurança do banheiro.
Para começar, use-o em casos de extrema urgência, pois as condições são um tanto quanto nauseantes.
Não tenha medo de girar a trava do banheiro, pois ela não impera, ao menos foi criada para isso.
Mas para aqueles que desconhecem a função “evite constrangimento” da trava, deixa a mercê todos os outros que, em última instância, dirigem-se para satisfazer as necessidades mais intimas e reveladoras de um ser humano.
Calças arriadas até o joelho; cotovelos apoiados na parte superior do joelho e mãos apoiando o queixo cansado e o rosto de sono. Pai de dois meninos, este senhor aparentava os 55 anos de um homem que viveu do trabalho pesado e desgastante.
Mas ali, nessa posição, era um homem qualquer, tão desprotegido quanto à própria careca ao sol.
A triste visão não durou um quarto de segundo. O impulso criado pela visão do estranho e constrangedor fez com que, em menos de um piscar de olhos, o braço que abriu a porta torna-se a fechá-la.
Os olhos assustados e ao mesmo tempo incrédulos no que viram procuraram pessoas acordadas que pudessem ter presenciado a patética cena. Mas todos pareciam dormir, afinal, eram 3 horas da madrugada.
De volta à poltrona, a única coisa que os olhos viram, antes de cair em sono profundo, mesmo que entre risos, foi o senhor voltar para seu lugar junto dos filhos e, passo a passo, a procura do invasor de privacidade, o qual não encontrou.
Este Blog procura retratar o cotidiano por meio de textos que buscam uma aproximação com as chamadas crônicas, tendo em vista o grande dilema que há em relação a este estilo, seja ele do jornalismo ou da literatura. Estas crônicas são criadas a partir de fatos e observações presenciadas ou vividas no dia-a-dia pelas mais variadas pessoas que perambulam pelas praças, ruas, avenidas, lugarejos, cidadelas, ônibus, bares, jardins... Ora visíveis e outras muitas invisíveis. Boa leitura!
Seja bem-vindo ao FalaGuri. Boa leitura amigo internauta. Hoje é
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
Momento nariz
Então ele passou a mão direita pelo nariz, enquanto que à mão esquerda estava uma sacola com compras de supermercado. Nada de mais, apenas um litro de óleo, um pacote de arroz e um pacote de balas de café. Os produtos se faziam ver devido a transparência da sacola adquirida no “1 real”, onde se satisfaz o desejo do consumo.
Novamente, a mão volta a coçar o nariz deste homem que aparentava mais de cinco décadas vividas na labuta.
De costas era como eu estava vendo este senhor que caminhava em plena praça da 13 de maio. O movimento era grande na avenida. Pessoas comprando roupas, outras carregando sacolas de alimentos, outras com diversos objetos nas mãos. Entre os mais apreciados, estavam os sorvetes, refrigerantes, pastéis e cochinhas que são vendidas ali mesmo na praça, por diversos ambulantes.
A os passos largos acompanhei esse senhor, uma figura distinta. Com olhos fixos à sua frente, ele passou por mim. Ao desviar dos outros pedestres, habilidade e agilidade de um jovem de poucos anos. Segurança na hora de encarar as pessoas e exigir, inconscientemente, com sorriso de homem experiente no rosto, que saíssem da frente. Afinal, a preferência é dos mais velhos.
A mão volta a coçar o nariz mais uma vez. E mais outra. O senhor não segurou a vontade de expirar.
O expiro veio forte e seguido de uma exclamação: “Nossa! Que coisa!”
Mas não parou por aí. O nariz estava incomodando esse senhor que vestia um terno já gasto pelo tempo e um tênis amarelado pela falta de água.
A mão direita retomou sua função: coçar o nariz. Mas, desta vez, ela realizou novas funções. Desta vez, nada de só coçar, ela iria ter atitude.
Ao coçar o nariz, este senhor usou dois dedos com muita precisão. Ele estava de costas para mim, mas, mesmo assim, pude imaginar como se deu o ato, pois por pouco não caiu sobre meu pé algo indesejável.
Ao apoiar o dedo polegar no lado direto do nariz, o indicador já tomou a posição de pressionar o lado esquerdo e, junto ao expiro, os dois dedos trabalharam em conjunto para retirar o liquido indesejável do nariz que há tempos incomodava.
Cara de nojo e de estranheza foi o que fez a jovem que estava de frente para este senhor, especialmente na hora em que, despercebido, após pressionar os dedos indicador e polegar no nariz, balançou a mão direita para o chão, livrando os dedos do fruto da gripe. Aquilo caiu a um centímetro do meu pé.
Nojo? Talvez, apesar de na hora ter vindo à mente uma frase usada em aula pelo meu professor de filosofia: “nada que é humano nos pode parecer estranho”.
Ora. Estranho talvez não tenha sido tanto, afinal, quem não expirou; quem não lambuzou os dedos numa forte gripe; quem não assuou o nariz em qualquer lugar quando estava sozinho ou entre os mais conhecidos.
Momentos e momentos, eis a essência de nossa vida.
Aliás, depois disso, o senhor passou a mão pelo terno, como se estivesse a ajeitá-lo e seguiu seu caminho. Primeiro, parou no sinal e, ao abrir o verde, caminhou em direção ao ponto de ônibus. Ou seja, os resquícios estão na nota com que pagou o ônibus ou na mão do primeiro amigo que encontrou e saudou com aquele aperto de mão amigável.
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