Prestes a completar 14 anos de vida saí de casa para estudar.
Por três anos morei em Caxias do Sul – RS até completar o segundo grau. Em 2005 passei pelo dilema de voltar para casa, e a vontade era muito forte, ou então dar mais um passo além e ir para Campinas – SP, cursar Jornalismo na PUC Campinas.
Hoje, 2011, já atuo na área de minha profissão, com meu diploma conquistado em 2008, numa despedida da faculdade considerada memorável. Boas notas; muito aprendizado; conhecimentos adquiridos; um TCC nota 10 e premiado; algumas outras premiações na faculdade e no Jornal Estadão; bons amigos e boas recordações.
Mas não estou escrevendo para falar de meus estudos ou profissão ou da Pós que fiz logo ao sair da faculdade.
Estou escrevendo dentro de um ônibus. Isso, num ônibus que embarquei há 18 horas para viajar de Campinas – SP minha atual cidade, até a casa de meus pais, em SC, na cidade de Caxambu do Sul.
O ônibus é uma finte de inspiração para mim. Já pensei em um dia contar todas as histórias que me aconteceram dentro de um ônibus. Seria um tanto quando emocionante, se falar das primeiras viagens, cômicas de outras e até românticas. Ou então, passar uma viagem toda escrevendo, sem parar. Seriam 18 ou 20 horas de viagem e muitas palavras.
O que me impede? Não sei, como todo aspirante a escritor sou muito critico com minhas palavras.
Já escrevi tantos textos e os calei na gaveta de um armário do quarto numa caixa de recordações escolares, lá onde guardamos cadernos com nossas primeiras letras de fôrma, frases, contas, poemas... nome do primeiro amor, cartinhas e recados... saudades.
Escrevo porque meu note ainda tem bateria e porque as paisagens, mesmo conhecidas de muitas outras viagens, merecem ser descritas. Afinal, são minhas companhias desde 2002, 9 anos que viajamos juntos.
Estas paisagens de SP até SC ou de SC a SP tornaram-se parte de minha vida em 2005, quando me tornei filho da PUC. Desde então viajo duas, três ou quatro vezes no ano. Numa conta rápida foram em média 21 viagens que duraram entre 18 e 21 horas.
Prefiro não saber o resultado dessa conta!
Mas tudo vale à pena. Rever a família, já que não posso seguir minha carreira escolhida em meu Estado - não considero as melhores condições de trabalho e, além disso, das cidades que venho jornalista só mesmo é o Willian e Fátima.
Então, lá vou eu tentar minha vida fora de casa e na expectativa de um dia ainda voltar para minhas origens. Quem sabe no futuro, daqui alguns anos...
Mas se precisar parar de fazer estas viagens vou sentir falta. O pior que é verdade. Ás 20 horas desta viagem, por exemplo... as histórias não foram das melhores, a não ser as 3h de atraso. As pessoas desta viagem são tranquilas. A mais animada é uma menina, de uns três aninhos. Cantou, dançou, pulou no banco até cansar. Apagou de madrugada, mas acordou animada logo cedo. Menina que despertou sorrisos no rosto de uma freira que viajava compenetrada em sua leitura.
Mas minhas velhas companhias, as paisagens, continuam lindas. Dessa vez, os campos estão amarelos. A colheita do milho e da soja deixou os campos limpos. Ainda tem as pastagens. Nesta época pré-inverno elas estão verdes e fortes em algumas regiões. Outras estão levemente sacas, pela falta ou excesso da chuva.
Tem os rios, limpos e envoltos de uma verde mata.
Mas o que sempre me chama a atenção são as imponentes e soberanas araucárias. Os “pinheiros”, como também são chamados. No sul, são abundantes. Sobressaem mesmo cercados por outras vegetações. Suas copas são vistas de longe, atingem entre 20 e 50 metros de altura.
Quando criança, morava no interior com minha família... meus avós, primos, tios moravam nas redondezas. No interior de Xaxim, numa comunidade chamada Linha Santa Lúcia, em homenagem a santa dos olhos, pode-se comparar a uma chácara (do estado de SP, mas das bem retiradas), cresci vendo essas araucárias que, uma vez por ano, nos presenteavam com o pinhão, um fruto delicioso, saboroso e saudável. Pode ser cozido na água, assado na chapa do fogão a lenha ou então assado no campo, numa fogueira com grimpas de pinheiro. Tem para todos os gostos.
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grimpas |
Lembro que de manhã, ainda com orvalho, quando não um frio de geada branca pelos campos, colocava um par de botas dos meus avós e saia pelo campo em busca de colher pinhões pelo chão do potreiro. Os pinhões, frutos que caem das pinhas, lá do alto das copas das Araucárias fêmeas, ficavam entre o gramado que crescia aos pés das soberanas araucárias, como que não apenas para alimentar o gado, mas para amaciar a queda dos frutos.
Era uma brincadeira colher os frutos logo cedo, em um balde ou sacolinha (sacola plástica de mercado).
Nunca subi em uma araucária, até o topo. Primeiro porque são espinhentas e sua casca machuca. Segundo porque eram sempre meus tios os mais fortes quando eu era criança e, então, ficavam eles encarregados de subir e derrubar as “bolas” ou pinhas. A mim restava recolher do chão e torcer para que alguma ficasse inteira para poder quebrá-la contra uma pedra. Terceiro porque ainda gurizinho cai de uma árvore e quebrei o braço. Não quero outro gesso para coçar e não poder tirar!
Hoje apenas aprecio estas árvores tão belas. Quem sabe são elas, e ainda estou por descobrir, que me impulsionam a crescer cada vez mais, mesmo envolto de muitas outras pessoas, sempre buscando meu espaço para, um dia, também chegar ao topo.
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OBS: para esclarecer, a viagem teve início dia 14 de abril, às 16h15. O ônibus da Reunidas (uma das empresas que mais desrespeita seus “clientes”) partiu com sentido a Santa Catarina. Cheguei na cidade de Chapecó dia 15 de abril, às 13h. Ou seja, quase um dia de viagem devido aos atrasos do motorista, as paradas desnecessárias, por fazerem com o mesmo ônibus duas linhas ao mesmo tempo - Piracicaba p/ Frederico Vespali e São Paulo p/ Frederico Vespali. A... sem contar que os ônibus da Reunidas estão em péssimas condições: bancos desconfortáveis, água gelada não existe e as TVs estão apenas para enfeite. Queria saber se estes itens estão inclusos no valor da passagem...