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segunda-feira, 27 de abril de 2009

Cena II

Companhia para sexo

O senhor de idade é abordado pela mulher e numa rápida conversa sai da Estação da Luz e corta a rua. Ela apressada, já o senhor de idade anda devagar com as limitações da idade. A mulher conversa com o senhor em tom baixo, mas as mãos falam alto. Ela faz fortes gestos. Gestos bruscos para chamar a atenção das amigas que continuam na porta da Estação. As duas moças começam a rir. Esnobam o senhor que acabara de atravessar a rua apoiado no guarda-chuva e acompanhado da cafetina.
Entram numa lanchonete. As duas moças, provavelmente prostitutas, seguem sua caminhada, fazendo da entrada da Estação uma “passarela da carne”.
Na lanchonete nenhum movimento. O idoso não sai, muito menos a cafetina. Ela vestida de roupas masculinas, com um sobre tudo, também não retorna da lanchonete. Passa um... dois... dez minutos e nada. Nem as duas moças da Estação vão para o bar e nem o senhor e a cafetina saem de lá.
Uma caminhada e, na frente do local, não se observa nada. Os dois sumiram. O local tem pessoas comendo salgados; outros na mesa bebendo; outros pagando a conta, mas ninguém encontra o senhor de idade e a possível cafetina. Eles sumiram. Abduzidos, talvez.
Nada de rever se o senhor de idade se satisfez com o que encontrou lá dentro. Nada de saber como sairia do encontro o homem de muita idade que cortou a rua com cara de quem ia pela primeira vez em busca desses serviços.
Ele estava surpreso. Não se sabe se por procurar esses serviços ou se pela forma como foi tratado pela cafetina. Ela pelo contrário, já tinha o “jeitinho” de vender o produto. Nada de timidez, mas muita ousadia. Já ele, entre o riso de safadeza e de conquista, estava o semblante de medo, como criança que faz travessura e procura olhares de apoio ou reprovação.
O que quero?
Sexo?
Companhia?
Prazer?
Por pouco dinheiro, devem custar pouco, pois eram fáceis e feias. Então, ele conseguiria o que procurava?
Sexo conseguiria, se tivesse ereção; se tomasse ou já havia, quem sabe, tomado a pílula azul.
Prazer? Talvez ele, pela realização. Já ela, prazer pelo dinheiro, pois deve ser rotineiro e forçado, então sexo é comum para ela.
Companhia? Sim, por uns minutos. Mas no fim, sairia como chegou: sozinho, como tantos outros senhores e senhoras são obrigados a viver a velhice. Sem pai, mãe, filhos, amigos, vizinhos, amores e sem prostitutas, alguns. E a rua atravessada com presteza pela idade do senhor, continuava lá, com outros mais moços, mais velhos, mais fortes, mais magros, mais altos ou baixos fazendo a travessia para a Estação, para o ônibus, para o lanche e para o sexo.
Sim, para o sexo também.

Cena I: na Estação da Luz, em São Paulo – SP, no sábado, dia 25 de abril, entre 9h20 e 9h50 da manhã.
..... Por Fabiano Fachini
OBS: Também publicada em http://inimigosdolide.wordpress.com/