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sábado, 6 de dezembro de 2008

Rica no busão

Um pouco de tudo acontece no ônibus. Pessoas caem; cobrador que não fala; bêbado pedindo silêncio; reclamações pelo troco da passagem; beijos; risadas; e partilha de sovacos – como diriam os humoristas.
Estava convencido: nada mais poderia me surpreender no busão. Mas, como diz o ditado, há tempo para tudo.
Em plena sexta-feira, horário de o trabalhador pegar ônibus, eis que surge uma senhora, toda sorridente, no ponto de ônibus.
- Esse vai para...
- Não. (responde seco o motorista)
-Mas passa perto de...
-Mais ou menos. (retruca o motorista)
Na dúvida, a senhora que aparentava entre 45 e 50 anos, entrou sorridente e brilhante. Sorridente, acredito, por estar entrando em um ônibus de linha e brilhante, pois ornada de anéis, colares, pulseiras e brincos de ouro destacava-se em meio aos “outros”.
Na estréia em um ônibus, ela conquistou os demais passageiros – claro que estes com certa estranheza. A madame cheia de jóias sorria, sorria e sorria enquanto conversava com todos do ônibus.
- Olha esse jovem! (indicava com o dedo a madame para a moça com quem puxava conversa).
- Sabe onde fica a região... (perguntava a senhora a outro passageiro)
- Essa região do... eu conheço pouco. (respondeu o senhor de rosto suado e olhos cansados)
Então ela procura outra pessoa para conversar. Queria conhecer. Interesse semelhante a um bebê quando quer conhecer – com as mãos – os brinquedos de uma loja infantil.
- Cobrador. É no próximo que eu desço? (interroga, sorrindo, a senhora)
- É! Mas vai ter que caminhar. (Responde o cobrador enquanto prende o chiclete nos dentes da frente)
- Não faz mal. Minha filha é magrinha... de tanto caminhar. (responde a sorridente e brilhante madame)
Uma frase perdida, mas talvez ela tenha usado para ressaltar a falta de exercício, pois estava um pouco acima do peso.
Chega ao ponto e a madame agradece o cobrador pela dica. Então, ela bate sem querer as pulseiras douradas ao segurar na porta do ônibus para descer. Envergonhada, ela sorri - como da vez em que quase caiu devido a uma freada brusca que o motorista precisou realizar durante o caminho – com alegria de quem prova algo novo e gosta, ou ao menos se surpreende.
O novo que talvez esteja no recíproco sorriso das pessoas; na explicação do cobrador; no bocejar de sono do jovem cansado; no andar pesado do busão se comparado a sua Mercedes; no ar abafado; na mistura dos desodorantes de mercado; nos colares de linha e sementes, tão finos e delicados como os de ouro...
A madame desce. O ônibus segue.
Mas o principal a madame perde de fazer. Ela pediu para o cobrador parar e, ao pedir, hesitou em puxar a cordinha do sinal. Uma pena, pois a experiência de andar de ônibus foi incompleta. O toque suave da campainha do ônibus é o êxtase da viagem.
Madame, desculpe. Mas você andou, provou, agitou, gostou... mas não puxou a cordinha.

3 comentários:

  1. muito bom fachini! adorei o texto!
    abraço

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  2. valeu pela presença no blog Eric
    Algumas são melhores, outras mais ou menos, outras boas, outras eu ainda melhorarei mais....
    Mas vamos concordar né, ela fez de tudo no ônibus, porém não puxou a cordinha..que graça tem?
    faloww

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  3. Putsz.....acordinha......manda voltar !!!!!

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