Pensativo, o jovem pergunta: e as chaminés?
O vento bate à porta de casa e, pelas primeiras vezes, o guri não pode se esquentar ao redor do fogão a lenha.
Para um rapaz catarinense, acostumado a temperaturas mais baixas, o frio aqui do centro-oeste está aos pés do frio da cidade natal. Então você, leitor, pergunta: “mas então, para que quer o fogão guri?”. Ele diria, entre suspiros, que é pela saudade do passado e apego às lembranças da cultura.
Quando o frio pensava em bater à porta, a lenha já estava empilhada, rachada e seca, á espera de braços para carregá-las até o fogão, ou melhor, para a caixa de lenha, onde ficava a espera de ser queimada. Caixa de lenha que tinha vários modelos, todos ainda muito visíveis nas lembranças do guri: a tradicional, feita de madeira ou, a convencional, uma caixa de papelão.
O fogo era aceso cedo. Antes de o galo cantar, os gravetos já estavam para virar brasa, junto das grimpas de pinheiro, colhidas na tarde de poucos e rápidos raios de sol que surgiam dispostos a secar o campo.
No estalar das brasas, a família do jovem ia se aconchegando ao redor do fogão a lenha. Das mãos do avô, o chimarrão ficava pronto. A segunda cuia era da avó, que enquanto provava do chimarrão, observava a chaleira com a água a ferver e, o barulho a embalar os primeiros pensamentos do dia. A cuia passava de mão em mão e dava ritmo aos causos contados e, aos afazeres do dia, que ali eram organizados.
E o fogo continuava ali, esquentando a chapa do fogão e aquecendo uma boa prosa. Fogo este que durava quase o dia todo. Só tinha folga depois do almoço, quando o guri acabava com a tarefa que lhe era encarregada: lixar o fogão. O guri, com certeza, não gostava, mas, hoje, sente saudades.
Este mesmo fogo o almoço cozinhava. Com mais alguns pedaços de lenha, as panelas mantinham-se quentes. O aroma da comida caseira preparada com carinho pelas mãos da mãe ou da avó ainda fazem o rapaz ficar com a boca cheia d’agua.
E depois do almoço, não deixavam de provar um amendoim torrado com a casca no forno do fogão a lenha e, também, não resistiam a batata-doce, assada na brasa. Que refeição! Depois disso, só uma cesta.
E as chaminés? Onde ficam elas nessa história?
Diferente da paisagem morta de concreto onde o jovem guri vive hoje, onde o verde cresce quase que por permissão divina, lá, onde as brasas aqueciam o fogão a lenha, o verde era abundante. Um local onde as pequenas propriedades, oriundas da agricultura familiar, tomavam conta da paisagem.
De manhã, então, ao abrir as janelas da casa, uma paisagem natural, como que pintada pelas mãos de Da Vinci, estavam à frente do rapaz. Os movimentos eram poucos: o vento balançava alguns galhos das araucárias, enquanto que a geada derretia lentamente. Ao horizonte, em meio às árvores e plantações, casas de madeira, poucas de material, com suas chaminés a marcar o espaço com a fumaça que, de cada uma delas, saía deixando seu rastro.
Ainda pensativo, o jovem levanta da calçada. Aos poucos, busca enfrentar a nova realidade e seguir seu caminho.
autor: Fabiano Fachini
Este Blog procura retratar o cotidiano por meio de textos que buscam uma aproximação com as chamadas crônicas, tendo em vista o grande dilema que há em relação a este estilo, seja ele do jornalismo ou da literatura. Estas crônicas são criadas a partir de fatos e observações presenciadas ou vividas no dia-a-dia pelas mais variadas pessoas que perambulam pelas praças, ruas, avenidas, lugarejos, cidadelas, ônibus, bares, jardins... Ora visíveis e outras muitas invisíveis. Boa leitura!
Seja bem-vindo ao FalaGuri. Boa leitura amigo internauta. Hoje é
uma bela cronica Fachini. parabéns
ResponderExcluirvc soube retratar exatamnte a realidade do q acontece em muitas das familias d meio rural. mas a pergunta q fica é: "e as chaminés?"
hj percebesse q nao grane maioria das casas do meio urbano nao se vê os chaminés, essa cultura do fogo de lenha, fogão a lenha aos pocos esta ficando mais restrita as familias do meio rural. a vários fatores q levam a isso, uma é a dificuldade de se encontar a lenha nas cidades coisa q no meio rural é facil de se achar. mas o q eu pesso é q as pessoas qainda tem esse costume q nao deixe morrer, um costume tão rico em cultura. como ja foi dita ali em volta do fogão q se toma um belo chimarão, contase causos, palmeja-se o dia, e torm a familia mais unida.
Um texto cheio de aromas, Fachini. De madeira, de comida, de fumaça (mas fumaça do "bem"), de nostalgia, enfim.
ResponderExcluirAbraço.
Buenas, tudo em riba Fachini...
ResponderExcluirNa semana passada recebi o seu e-mail comunicando que havia mais uma crônica no seu blogger. Quando comecei a ler...pensei!!!"Este texto deve ser lido com mais atenção e não em meio ao trabalho"...
Nesta manhã, (03), me deparei com uma situação engraçada...o tempo está chuvoso, seguido de muitos raios. Levantei-me, arrumei a cama e quando estava saindo do quarto...cadê a energia?
Em meio a escuridão fui procurar uma vela e um caixa de fósforos. Na última tentativa, encontrei-as.
Os fósforos tinham duas utilidades: acender a vela e a “grimpa” que estava dentro do fogão à lenha.
Ao me sentar ao lado do fogão, lembrei-me da sua crônica, dessa forma, surgiu-me a idéia de chegar ao trabalho, ao som vibrante da chuva e o minuano e saborear um lindo texto, que tem a riqueza de em poucas palavras englobar a maneira pela qual vive uma cultura, neste casto país que se chama Brasil.
Fachini, fico por aqui...Com muita chuva, frio, geada, mas sim, um bom fogão de lenha para esquentar nossas mentes e a nossa cultura.
Sucesso e felicidades!!!
Ê, Fachinão!
ResponderExcluirQue texto bom, cara...
Serviu para retratar um pouquinho dessa cultura do fogo e da lenha que jamais vi por aqui...
Bacana demais!
abraços
Bom, posso ate ser suspeita pra falar, por ter as mesmas origens do autor e por compartilhar de tds essas delícias da infância.
ResponderExcluirFacchini, tu é bom guri, o texto ta ótimo, adorei poder saborear do meio de uma selva de pedras as lembranças de um lugar q mesmo sabendo nao me pertencer mais, ficará eternamente em minha memória!!!
bjocas gurizito
SUCESSO!!!!!!!!!!!!!!